Por: Marcio Martins
Crédito: Montagem/Google Imagens
“Quanto mais ladrão, mais
querido” – Essa é uma das frases mais emblemáticas da recente história política
brasileira, dita pela então Deputada Estadual Cidinha Campos em discurso histórico
proferido na Assembléia Legislativa do Rio de Janeiro contra a corrupção no
Tribunal de Contas do Estado (relembre aqui), mas que tão bem resume a
realidade política do alto sertão alagoano, afinal de contas, a corrupção por
aqui, é uma meta a ser batida de tempos em tempos, com direito inclusive a
aplausos, carreatas e fogos de artifícios a festejar quem rouba mais.
Foi assim em 2005 quando a
Polícia Federal deu início a uma das maiores operações contra a corrupção em
Alagoas, levando para a cadeia dezenas de prefeitos e empresários integrantes
de uma organização criminosa das mais covardes e bem articuladas que se têm
notícias nos registros da história alagoana, afinal de contas, os GABIRUS (como
ficou conhecida nacionalmente a Operação Gabiru), desviaram milhões da merenda
escolar pelos quatro cantos de Alagoas, inclusive em Canapi que teve seu
prefeito da época preso por 54 dias e consequentemente anos depois condenado em
2ª instância pelo nefasto crime.
Apesar do sucesso da Operação
Gabiru, as prisões dos prefeitos não intimidaram outros políticos corruptos de
Alagoas, muito pelo contrário, o esquema desbaratado em 2005, que poderia
servir de exemplo, dois anos mais tarde, em 2007, foi ainda maior, desta vez,
atingindo a Assembléia Legislativa de Alagoas, onde teria sido desviado R$: 300
milhões de reais dos cofres públicos, desta vez, envolvendo vários deputados
estaduais, incluindo o então “manda chuva” do sertão que direta ou
indiretamente comandava várias prefeituras em Alagoas, a exemplo de Canapi e
Inhapi, e que anos mais tarde, já na condição de prefeito de Canapi voltaria a
se envolver em um novo esquema de corrupção, este bem mais recente (2016),
desarticulado pela Operação “Triangulo das Bermudas” em referência aos
municípios de Canapi, Inhapi e Mata Grande.
Desta vez o esquema foi tão
descarado que chegou a ser matéria especial no Programa Fantástico da Rede
Globo, não por uma, mas por duas vezes, haja vista que outro clã político do
sertão, “metia a mão” sem dó nem piedade nos recursos públicos da prefeitura de
Mata Grande. Resultado! O prefeito e o ex-secretário de governo de Canapi
presos e condenados em 1º instância e o ex-prefeito e seu irmão ex-presidente
da Câmara de Vereadores de Mata Grande presos também.
E não parou por ai, o
vice-prefeito de Canapi após a prisão e afastamento do prefeito, também foi
parar atrás das grades, e em Mata Grande, o prefeito eleito em Outubro/2016
também foi para a cadeia junto com um vereador, além do afastamento de outros
05 (cinco), que segundo o MPE estariam recebendo propina do gestor municipal
para não fiscalizá-lo e aprovar tudo que fosse do seu restrito interesse.
Vale destacar e lamentar, que
em meio a tudo isso, a população de Canapi e Mata Grande foram às ruas, mas não
para protestar contra os corruptos, mas sim para aplaudi-los e fazer carreata
soltando fogos a cada decisão da justiça que os colocava em liberdade e de
volta ao comando das respectivas prefeituras.
E o resultado político disso
tudo, não foi outro, mesmo com tanto dinheiro desviado e com todos os processos
e prisões, 14 anos depois da primeira operação contra a corrupção que atingiu
os coronéis do alto sertão alagoano, pejorativamente do “triângulo das
bermudas”, a população canapiense e matagrandense, não aprendeu absolutamente
nada, apesar dos ensinamentos das operações policiais contra a corrupção em
seus respectivos municípios, afinal de contas, as oligarquias continuam no
poder até hoje, e o pior, praticamente sem concorrentes para enfrentá-los nas
urnas, dada desigualdade do jogo imundo da politicagem, onde os homens de bem
que se arriscam contra o poder político do coronelismo moderno, são vistos como
“inimigos” pelos verdadeiros analfabetos políticos descrito por Bertolt Brecht:
“O pior analfabeto é o analfabeto político. Ele não ouve, não fala, nem
participa dos acontecimentos políticos. Ele não sabe o custo de vida, o preço
do feijão, do peixe, da farinha, do aluguel, do sapato e do remédio dependem
das decisões políticas. O analfabeto político é tão burro que se orgulha e
estufa o peito dizendo que odeia a política. Não sabe o imbecil que, da sua
ignorância política, nasce a prostituta, o menor abandonado, e o pior de todos
os bandidos, que é o político vigarista, pilantra, corrupto e lacaio das
empresas nacionais e multinacionais”.
Bem que com esse “tapa na cara” dado por Brecht nos
verdadeiros “analfabetos políticos”, este artigo estaria fechado com “chave de
ouro”, porém, é preciso fazer justiça ao atual Prefeito do município de Inhapi
que em meio a tantos escândalos de corrupção dentro do “Triângulo das Bermudas”
onde sua cidade e seu povo estão inseridos, fez valer sua obrigação moral de
homem público empregado do povo de não se permitir contaminar com a ganância
dos seus colegas prefeitos de Mata Grande e Canapi presos por corrupção.