segunda-feira, 15 de julho de 2019

O que as operações Gabiru, Taturana e Triângulo das Bermudas nos ensinaram?


Por: Marcio Martins
Crédito: Montagem/Google Imagens

“Quanto mais ladrão, mais querido” – Essa é uma das frases mais emblemáticas da recente história política brasileira, dita pela então Deputada Estadual Cidinha Campos em discurso histórico proferido na Assembléia Legislativa do Rio de Janeiro contra a corrupção no Tribunal de Contas do Estado (relembre aqui), mas que tão bem resume a realidade política do alto sertão alagoano, afinal de contas, a corrupção por aqui, é uma meta a ser batida de tempos em tempos, com direito inclusive a aplausos, carreatas e fogos de artifícios a festejar quem rouba mais.

Foi assim em 2005 quando a Polícia Federal deu início a uma das maiores operações contra a corrupção em Alagoas, levando para a cadeia dezenas de prefeitos e empresários integrantes de uma organização criminosa das mais covardes e bem articuladas que se têm notícias nos registros da história alagoana, afinal de contas, os GABIRUS (como ficou conhecida nacionalmente a Operação Gabiru), desviaram milhões da merenda escolar pelos quatro cantos de Alagoas, inclusive em Canapi que teve seu prefeito da época preso por 54 dias e consequentemente anos depois condenado em 2ª instância pelo nefasto crime.

Apesar do sucesso da Operação Gabiru, as prisões dos prefeitos não intimidaram outros políticos corruptos de Alagoas, muito pelo contrário, o esquema desbaratado em 2005, que poderia servir de exemplo, dois anos mais tarde, em 2007, foi ainda maior, desta vez, atingindo a Assembléia Legislativa de Alagoas, onde teria sido desviado R$: 300 milhões de reais dos cofres públicos, desta vez, envolvendo vários deputados estaduais, incluindo o então “manda chuva” do sertão que direta ou indiretamente comandava várias prefeituras em Alagoas, a exemplo de Canapi e Inhapi, e que anos mais tarde, já na condição de prefeito de Canapi voltaria a se envolver em um novo esquema de corrupção, este bem mais recente (2016), desarticulado pela Operação “Triangulo das Bermudas” em referência aos municípios de Canapi, Inhapi e Mata Grande.

Desta vez o esquema foi tão descarado que chegou a ser matéria especial no Programa Fantástico da Rede Globo, não por uma, mas por duas vezes, haja vista que outro clã político do sertão, “metia a mão” sem dó nem piedade nos recursos públicos da prefeitura de Mata Grande. Resultado! O prefeito e o ex-secretário de governo de Canapi presos e condenados em 1º instância e o ex-prefeito e seu irmão ex-presidente da Câmara de Vereadores de Mata Grande presos também.

E não parou por ai, o vice-prefeito de Canapi após a prisão e afastamento do prefeito, também foi parar atrás das grades, e em Mata Grande, o prefeito eleito em Outubro/2016 também foi para a cadeia junto com um vereador, além do afastamento de outros 05 (cinco), que segundo o MPE estariam recebendo propina do gestor municipal para não fiscalizá-lo e aprovar tudo que fosse do seu restrito interesse.

Vale destacar e lamentar, que em meio a tudo isso, a população de Canapi e Mata Grande foram às ruas, mas não para protestar contra os corruptos, mas sim para aplaudi-los e fazer carreata soltando fogos a cada decisão da justiça que os colocava em liberdade e de volta ao comando das respectivas prefeituras.

E o resultado político disso tudo, não foi outro, mesmo com tanto dinheiro desviado e com todos os processos e prisões, 14 anos depois da primeira operação contra a corrupção que atingiu os coronéis do alto sertão alagoano, pejorativamente do “triângulo das bermudas”, a população canapiense e matagrandense, não aprendeu absolutamente nada, apesar dos ensinamentos das operações policiais contra a corrupção em seus respectivos municípios, afinal de contas, as oligarquias continuam no poder até hoje, e o pior, praticamente sem concorrentes para enfrentá-los nas urnas, dada desigualdade do jogo imundo da politicagem, onde os homens de bem que se arriscam contra o poder político do coronelismo moderno, são vistos como “inimigos” pelos verdadeiros analfabetos políticos descrito por Bertolt Brecht: O pior analfabeto é o analfabeto político. Ele não ouve, não fala, nem participa dos acontecimentos políticos. Ele não sabe o custo de vida, o preço do feijão, do peixe, da farinha, do aluguel, do sapato e do remédio dependem das decisões políticas. O analfabeto político é tão burro que se orgulha e estufa o peito dizendo que odeia a política. Não sabe o imbecil que, da sua ignorância política, nasce a prostituta, o menor abandonado, e o pior de todos os bandidos, que é o político vigarista, pilantra, corrupto e lacaio das empresas nacionais e multinacionais”.

Bem que com esse “tapa na cara” dado por Brecht nos verdadeiros “analfabetos políticos”, este artigo estaria fechado com “chave de ouro”, porém, é preciso fazer justiça ao atual Prefeito do município de Inhapi que em meio a tantos escândalos de corrupção dentro do “Triângulo das Bermudas” onde sua cidade e seu povo estão inseridos, fez valer sua obrigação moral de homem público empregado do povo de não se permitir contaminar com a ganância dos seus colegas prefeitos de Mata Grande e Canapi presos por corrupção.

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